HUMILDADE
5/12/2018
HUMILDADE

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Conheci Roberto Carlos no final dos anos 50 na TV Continental, no Rio.
Ele cantava nos programas do Carlos Imperial e do Jair de Taumaturgo,
entre outros.
Eu, nos programas de MPB dirigidos pelo Haroldo Costa e pelo Luiz Carlos Miele.

Depois disso ele se tornou, merecidamente, o Rei da Juventude.
De direito e de fato.

Nos anos 80, houve uma tragédia no nordeste provocada pela chuva e os
artistas – Chico Buarque, Gilberto Gil e Fagner à frente - estavam
planejando fazer um disco cuja renda reverteria para os nossos irmãos nordestinos.

Uma noite, quando eu estava saindo do Teatro do Hotel Nacional em São Conrado, no Rio, o Nonato Buzzar me convidou a ir até a casa do Chico, onde haveria uma reunião sobre o tal disco.

A casa estava cheia, cada um apresentando uma sugestão.

Eu fiquei ouvindo.

Num certo momento, ouvi uma voz: "E o Roberto, alguém falou com ele?"

Nada.

Lá pelas tantas, outra voz: "Tudo bem, mas sem o Roberto não tem disco".

Esperei mais algum tempo e como ninguém se manifestou, me ofereci pra fazer o contato com o Roberto.

Marcamos no dia seguinte no Clube do Samba, na Barra.

De lá, liguei pra casa do Roberto, atendeu a Miriam Rios, que estava casada com o
Roberto, na época, pedi a ela que o chamasse, falei com ele qual era o assunto e ele,
na mesma hora, se colocou à disposição.

Quando eu ia passar o telefone para o primeiro da fila que havia se formado atrás
de mim, ele disse: "Silvio, obrigado por se lembrarem de mim".

Passei o telefone e dei como encerrada a minha participação.

Alguns dias depois, fui encontrar o Hermes - um amigo de São Paulo que tinha um estúdio na Barra, que eu queria alugar pra gravar um disco independente,
quando, no corredor, encontrei o Chico Buarque.
Perguntei se ele estava gravando ali e ele: "Ué, ninguém te avisou?"

Então, percebi que a gravação do disco do nordeste estava acontecendo ali,
naquele momento.
O Chico me perguntou se eu queria aproveitar a oportunidade
e participar.
Concordei, na hora.

E assim, quando menos esperava, tive a sorte de participar de mais um momento
de solidariedade da classe artística.

Mas a lembrança mais forte que me ficou desse episódio foi a atitude de um homem,
um artista maior, agradecendo pela lembrança do seu nome.
Isto se chama

HUMILDADE



INDEPENDENTES