ARCO IRIS
Quando, em 1965, fui convidado a fazer a peça "Arco Iris"- um musical grandioso, produzido por Abraham Medina e dirigido por Geraldo Casé, eu nunca havia pisado num palco de grande porte.
O Teatro República ocupava um quarteirão inteiro, com a frente na Rua Gomes Freire e os fundos na Rua dos Inválidos, onde hoje é a TV-E, no Rio de Janeiro.
Era um teatro de 1.250 lugares, com instalações excelentes e dotado de equipamentos de som e luz de última geração.
A peça era uma sucessão de quadros, inspirados nas cores do arco iris:
O vermelho era representado pelo Candomblé, o azul pela Bossa Nova, o verde pelo Tango, o amarelo pela Música Medieval e assim por diante.
O elenco era de quase 100 artistas, entre músicos, atores, bailarinos, comediantes, modelos, artistas de quase todas as áreas.
A orquestra de 45 músicos
Os arranjadores: Eumir Deodato e Lyrio Panicalli,
As músicas: da dupla Menescal / Bôscoli e do maesto Moacyr Santos.
Os coreógrafos: Lennie Dale e Luciano Luciani.
Luciano, aliás, depois da temporada, foi dirigir a RAI - a TV oficial da Italia.
A bailarina principal era a Wilma Vernon. Os cantores: Pery Ribeiro, Hilton Prado e eu. Cada um cantava um repertório compatível com sua voz e estilo.
Depois de alguns dias de ensaios, o Pery saiu do elenco, alegando não sei o que. Depois, fiquei sabendo o motivo e, mais tarde, eu conto.
Com a saída do Pery,, o Casé me pediu que cantasse, também, o repertório dele.
No dia do ensaio geral, já com os figurinos definitivos, me deram uma roupa de príncipe para vestir.
Essa roupa seria usada pelo Pery no quadro "Medieval".
Foi aí que suspeitei da razão de sua saída:
É que naquele tempo, preconceituosamente, os cantores, mesmo sem motivo nenhum,
sofriam com a fama de homossexuais.
Imagine usando uma roupa daquelas...
Hoje não haveria problema nenhum, mas naquele tempo...
Por isso, vacilei,
Estávamos a poucos dias da estréia e os diretores, desesperados, fizeram de tudo pra me convencer.
Eu continuava na dúvida.
Foi então que aconteceu uma coisa linda.:
O elenco se reuniu e me pediu que reconsiderasse, argumentando que eu era um artista trabalhando e, no palco, seria apenas um personagem, que não havia nada a temer.
Eles me convenceram e voltei atrás.
No dia da estréia eu suava frio, esperando o pior.
Felizmente nada de mal aconteceu e a temporada foi longa e vitoriosa.
Depois do "Arco Iris" fiz, no mesmo teatro, "O teu cabelo não nega", um musical sobre a obra de Lamartine Babo, com produção do mesmo Abraham Medina e a direção do lendário Carlos Machado.
Nesta peça, dividi o palco com Grande Otelo - uma honra e uma alegria que guardo até hoje no meu coração.
Mas, quero dizer uma coisa:
Com essas duas peças, compreendi o respeito, o amor e a devoção que os artistas têm pelo Teatro.
E aprendi que o palco é um lugar sagrado.